A produção de etanol de milho, além de abrir uma nova opção de mercado para os produtores do cereal em Mato Grosso, tem se mostrado uma alternativa industrial com baixo impacto ambiental. A constatação foi unânime entre os técnicos e especialistas que participaram do I Dia da Indústria de Etanol de Milho, evento realizado nesta terça (23) pela União Nacional do Etanol de Milho (Unem). Além de palestras sobre a atividade, os convidados visitaram a planta industrial da FS Bioenergia, em Lucas do Rio Verde.
Presidente da Unem, Ricardo Tomczyk explica que a iniciativa visa mitigar possíveis dúvidas acerca da produção de etanol de milho. “É um mercado novo, e é natural que surjam questionamentos. Temos vários empreendimentos em etapa de projeto ou em construção e a tendência é de expansão deste mercado. Por isso, essa aproximação com projetistas, analistas, governo e membros do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) é fundamental”.
Na programação, foram realizadas três palestras de cunho técnico. Uma das palestrantes foi Márcia Cleia Vilela dos Santos, bióloga de formação e doutora em Ecologia. Superintendente de Infraestrutura, Mineração, Indústria e Serviços da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Márcia apresentou um histórico sobre os processos de licenciamento ambiental de usinas de etanol de milho em Mato Grosso. “Há impactos ambientais, mas as vantagens desse modelo de produção superam as desvantagens. Verificamos um menor uso de área plantada e uma redução significativa na emissão de gás carbônico. O setor tem recebido investimento maior em tecnologia de produção e os resultados são positivos”, analisou.
Um dos impactos ambientais benéficos da industrialização do milho em Mato Grosso é a redução de caminhões nas rodovias. “Considerando os números deste ano, teremos 30 mil bitrens de 9 eixos a menos das rodovias”, cita Tomczyk.
A unidade da FS Bioenergia é um exemplo de sustentabilidade. Em obras de ampliação, a usina é a única que opera somente com milho atualmente no Brasil. Seu principal diferencial é o aproveitamento total da matéria-prima. “Nossa tecnologia permite a separação dupla de fibras e separamos resíduos sólidos dos líquidos. Com isso, além de conseguirmos gerar vários outros produtos além do etanol, zeramos a produção residual de vinhaça, que usamos para xarope”, explica Fernando Quilice Martinelli, coordenador de operações da indústria.
Atualmente, existem nove usinas de etanol de milho em operação no Brasil. Destas, cinco estão localizadas em Mato Grosso, duas em Goiás, uma em São Paulo e outra no Paraná. A produção nacional está estimada em 850 milhões de litros de etanol em 2018, e a perspectiva é de incremento. Somente os projetos que estão em obras injetarão nos próximos anos um volume adicional de 1,6 bilhão de litros do combustível no país.
Uma usina de etanol de milho tem potencial para ofertar mais três outros produtos: o concentrado de proteína comumente chamado de DDG, que é muito utilizado como alimento animal; o óleo de milho, que pode servir de matéria-prima para o biodiesel ou mesmo para consumo humano, se refinado; e a energia elétrica gerada pela queima das caldeiras, à base de biomassa. “É uma cadeia complexa que movimenta a economia local para além do etanol”, pontua Tomczyk.
E, a depender da produção agrícola de grãos, o aquecimento econômico irá continuar. Somente em Mato Grosso, estado que concentra as indústrias de etanol, há uma abundância de matéria-prima. Atualmente, a produção de milho fica em torno de 30 milhões de toneladas no ano, dos quais 17 milhões são exportados. “Ainda temos muito potencial para crescer. Se neste ano processamos 1,5 milhão de toneladas de milho em Mato Grosso para produzir 650 milhões de litros de etanol, em 2028 nossa projeção é absorvermos pelo menos 10 milhões de toneladas de milho para gerarmos mais de 4 bilhões de litros de combustível”, afirma o presidente da Unem.
Estudo recente da Agroícone mostra que na etapa de construção de uma usina de grande porte de etanol de milho, são gerados 8,5 mil empregos diretos e indiretos, dos quais 1,6 mil ficam no estado sede da indústria. A partir da entrada em funcionamento, a geração de empregos é de aproximadamente 4,5 mil postos de trabalho, dos quais quase 3 mil no estado de origem.